segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Entrevista com o escritor Fernando Monteiro.
Tema: Existe espaço para o pensamento universal em Pernambuco?


O pensamento cultural pernambucano foi sempre regionalista ou em algum momento de sua história ele tentou ser universal?
R - Eu perguntaria, antes de mais nada, se de fato existe um "pensamento cultural pernambucano". Pode ser até que exista uma espécie de "atitude" nossa, mas não propriamente o que designa o palavra pensamento, e, ainda assim, essa atitude seria mais regional do que mesmo específica do "Leão no Norte" um tanto ou quanto banguela, sempre, pelo menos na área cultural. Nunca me perfilei entre os que admiravam as dentaduras perfeitas nem sequer de Gilberto Freye -- por sinal muito mais postiça do que ainda hoje pensam Edson Néry e outros "gilbertófilos" (esse último dos nossos provincianismos queridos como o bolo de souza leão).

Em que medida o pensamento de Gilberto Freyre influenciou esse regionalismo cultural?
R - Gilberto Freyre foi um conservador na política, um oportunista na vida e um discípulo aplicado de Franz Boas, na socio-antropologia. Não me iludo com o seu discurso de Marco do bairro de Santo Antonio, aos pés do cadáver do estudante Demócrito de Souza Filho (assassinado por esbirros do Estado Novo, na sacada do Diário de Pernambuco) isso apenas três anos depois do nosso sociólogo-antropólogo escrever a seguinte dedicatória para o ditador Getúlio Vargas, na folha de rosto do livro ("O mundo que o português criou") que tornou Gilberto persona gratíssima à ditadura de Antonio de Oliveira Salazar em Portugal: "Ao Presidente Getúlio Vargas, com a velha simpatia e a admiração de Gilberto Freyre. Rio, 1942". Ninguém me disse isso; eu possuo o exemplar, com a infame dedicatória autêntica, do próprio punho de "Giba", evidentemente.

O regionalismo ao mesmo tempo que condensa uma identidade ela negaoutras, criando um clima um pouco artificial de cultura que engendra asi mesma. Você concorda com esta afirmação?
R - Concordo. E a prova dos nove disso é o discurso de um Ariano Suassuna, por exemplo.

Neste contexto, o que representa o goverto do estado ter um secretáriode cultura como Ariano Suassuna, o regionalista por excelência?
R - Representa mais do mesmo, no grau máximo - o que impede que respiremos a atmosfera do século 21, praticamente uma década depois da chegada do Terceiro Milênio. Enquanto os arianistas -- de Jô Soares às velhinhas das secretárias de educação etc -- cairem nas usuais gargalhadas com as velhas piadas do mestre da rua do Chacon, fique certo de que a nossa província mental permanecerá desconectada das melhores possibilidades & virtualidades do futuro que já começou...
Que artistas, ou pensadores pernambucanos romperam essa barreira echegaram à universalidade?
R - Vicente do Rego Monteiro, Josué de Castro e Evaldo Coutinho.

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