quinta-feira, 7 de junho de 2007

A MÚSICA ARMORIAL



Os Criadores da Música Armorial

Arianos Suassuna certamente foi uma peça importante na criação da música armorial. Mas a criação da estética armorial se deve a músicos que já sentiam a necessidade de fazer uma música utilizando os temas do nosso povo, uma música erudita nordestina.

O primeiro passo para a criação da musicalidade armorial foi a chegada de Guerra Peixe ao Recife na década de 1950. Guerra Peixe era um dos maiores compositores brasileiros da época. Ele se dedicava ao Dodecafonismo. Para vir ao Recife, ele recusou dois convites, um para ir aos Estados Unidos lecionar e outro de trabalhar em Zurique, onde teria a orquestra da rádio de Zurique à sua disposição. Com sua chegada à cidade, para trabalhar na Rádio Jornal do Commercio, encantou-se com o maracatu e começou a estudar a diversidade da música pernambucana. Escreveu posteriormente "Durante 3 anos me meti nos xangôs, maracatus, viajei para o interior, recolhi músicas de rezas para defunto, da banda de pífanos...". Gilberto Freyre o descreveu como "um sulista nordestinizado".

Guerra Peixe ensinou composição a quatro alunos, Capiba, Sivuca, Jarbas Maciel e Clóvis Pereira. Eles começaram a compor música erudita com os temas que tinha colhido na cultura nordestina.

No final da década de 70, Cussy de Almeida, maestro e violinista, juntou-se a Ariano Suassuna para fazer uma orquestra de câmara com a sonoridade dos instrumentos nordestinos.

Ariano contratou tocadores de viola, pífano e cantadores para tocarem, com Jarbas Maciel, Clóvis Pereira e Cussy de Almeida copiando os temas para elaborar uma música com esse material.

Na sua criação, a orquestra ficou vinculada ao Conservatório Pernambucano de Música, era regida por Cussy de Almeida e tinha como spalla o violinista chileno, recém chegado ao Recife, Rafael Garcia. Seu concerto inaugural foi no dia 21 um de agosto de 1970, portanto, alguns meses antes do lançamento oficial do movimento.

No dia 18 de Outubro a orquestra tocou no lançamento do Movimento Armorial, na Igreja de São Pedro, onde ficou a exposição de pinturas de Brennand e outros artistas.
O Pátio de São Pedro tinha sido recentemente restaurado, a primeira revitalização com a finalidade de atrair turistas.
A orquestra tocou em todo o interior de Pernambuco, depois nas capitais do Nordeste. Era o orgulho do Estado de Pernambuco, chegou a ser considerada uma das melhores orquestras de câmara do Brasil. Fez concertos em todo o Brasil, tocou até para o presidente Médici em Brasília. Em todos os concertos, Ariano Suassuna apresentava as obras e o ideário do movimento.

A orquestra fez cerca de 300 concertos em todo o Brasil.O mais importante deles foi na sala Cecília Meireles, na época a mais importante sala de concertos do Brasil, com grande êxito. No concerto a Orquestra tocou, além da Música Armorial, As Quatro Estações de Vivaldi.

A Orquestra gravou vários Lps pela gravadora Continental. As principais obras Armorias foram compostas para a orquestra, nessa época. O sucesso da orquestra e da Música Armorial contribuiu para romper o preconceito musical contra o Nordeste.

Definição de Música Armorial

A Música Armorial, ou Música Erudita Nordestina é a música inspirada na rabeca, na viola sertaneja, na banda de pífano e nas cantorias. Faz um paralelo entre a música nordestinas e suas raíses ibéricas, barrocas. Na Orquestra Armorial a rabeca era representada pelo violino e viola, que são da mesma família de instrumentos. A banda de pífano era imitada pela flauta e percussão. A viola sertaneja pelo cravo, já que os dois são de cordas pinçadas e de aço.

A Música Armorial oscila entre o ibérico e o nordestino, o popular e o erudito, buscando o passado e promovendo uma renovação da música brasileira.

Há um paralelo também entre os nomes dos movimentos da Música Erudita e Armorial, na Erudita os movimentos são Allegro, Adagio e Presto, na Armorial é Chamada, Aboio e Galope.

Cisão no Movimento

Ariano Suassuna sempre resistiu ao fato de não haver instrumentos realmente populares na Orquestra Armorial. Cussy justificava isto dizendo que a utilização dos instrumentos eruditos tinha a função de dar mais uniformidade sonora. Isto junto com divergências pessoais entre ele e Cussy de Almeida fez com que eles se separacem e cada um seguiu sua tendência, Ariano com seu Quinteto Armorial de instrumentos populares e músicos sem formação acadêmica, e Cussy com sua orquestra de músicos de formação erudita. Os jornais eram palco dos debates entre as duas tendências.


Mangue Versus Armorial

O manifesto Maguebeat começa dizendo que o Recife é a segunda pior cidade do mundo pra se viver, de fato o "Movimento" Mangue foi criado numa época de abandono e decadência cultural e reflete esta decadência.
Um dos pontos de divergência, eu suponho, é que Ariano Suassuna diz que Recife, e o Nordeste, é o melhor lugar do mundo pra se viver, por nossa riqueza cultural e social.
Naquela época o Recife Antigo estava abandonado, os casarões eram ocupados por bordéis, o centro da cidade estava caindo aos pedaços.
Os "Mangueboys" fizeram uma junção entre o Rock, Punk, o Rap, a música de Michael Jackson e o maracatu, ou seja, tudo que tem de mais comercial, artificial e ruim misturado com o maracatu.
Se dizem multiculturais ao misturar tantos ritmos diferentes. Isso eu denomino de multisuperficialismo, onde se mistura um monte de estilos diferente e o resultado final é uma mistura vaga, superficial.
Jarbas Maciel afirmou em entrevista ao ser perguntado quais os exponentes do movimento armorial na música popular "No popular tem o Lenine, que tem uma veia importantíssima – o antípoda de um blefe chamado Chico Science, cuja música é uma mixórdia de rap, rock (decadente) e realizada dentro do esquema da música comercial (popular) que caracteriza essa indústria cultural que está aí, tudo isso temperado com uma percussão alucinante, que serve mais para despistar a incrível pobreza do produto final. Tudo bem "projetado" para ser politicamente correto e ao gosto da mídia ávida por novidade a qualquer preço. Coisa para inglês ver. Nada mais".
Na época em que o Maguebeat estava no auge Arraes chamou Ariano Suassuna para o cargo de Secretário de Educação e Cultura.
A jornalista Ivana Moura, que ainda escreve no Diário, apresentou Chico Science a Ariano. "Mestre Ariano, eu também sou um armorial, meu coração é de cerâmica" disse Chico a Ariano que respondeu "se você é armorial, por que se chama Chico Science?". Chico certamente que o governo do estado financiasse seus shows.
A questão é, se Chico Science e Nação Zumbi tem contratos milionários com a Sony, ou seja, é amparado pela indústria de massa, por que querer apoio público?
Ariano admite o valor dessa manifestação, de algum modo o "movimento" Mangue chamou a atenção do Brasil para o Maracatu, só não aceitou financiar o que já tem o financiamento privado.



Críticas à Música Armorial

1. Ser um movimento fechado à musica moderna e eletrônica.
2. Ser provinciano.
3. De não aceitar a influência americana mas aceitar a influencia européia.
4. De ser elitista.
5. De ter acabado.
1. O armorial se preserva de contaminação da cultura de massa, e isso não é ser restrito ou atrasado, é se preservar do que é empacotado, padronizado e ruim.
2. Acusam a Música Armorial de provinciana. Tenho vários exemplos de que a influência do armorial não se restringiu ao Nordeste. A Orquestra Sinfônica de São Paulo (considerada uma das 100 melhores orquestras do mundo) fez duas turnée pela Europa, a segunda foi a dois meses atrás, eles tocaram em Paris, Viena, Berlin, Colônia entre outras, em todas as cidades tocaram o Mourão de Guerra Peixe e Clóvis Pereira, foram calorosamente aplaudidos, o jornal Le Monde se referiu à orquestra como "Un Miracle Brésilen".
Clóvis Pereira teve sua Missa Nordestina tocada na Eco 92 no Rio de Janeiro, seu Concerto Para Violoncelo foi gravado por um dos 5 melhores violoncelistas do mundo, Antonio Menezes, que agora pretende fazer um cd com suítes dos principais compositores eruditos. Ele encomendou para Clóvis Pereira um suíte que está sendo composta para integrar o cd.
Outro exemplo é o compositor Marlos Nobre, considerado um dos melhores compositores eruditos do mundo, que escreveu várias peças armoriais que foram tocadas por algumas das melhores orquestras do mundo.
3. Os críticos ao Armorial vêem uma contradição o fato do Movimento não aceitar a influência americana mais aceitar a influência européia. A questão é que a influência européia que se aceita é a que foi transportada à cultura brasileira pela colonização e que se perpetuou pela tradição. Assim, buscando a tradição européia se trás as origens da identidade nacional.
5. Diz-se que o movimento acabou, que atualmente não se faz música armorial. Sobre isso eu lhes mostro o cd A Música Erudita dos Compositores Populares Pernambucanos, com algumas músicas inéditas, tocadas por uma orquestra de músicos internacionais. Teve ótima crítica pela revista francesa Diapason, especializada em Música Erudita.


Fontes:
- Entrevista com Clóvis Pereira feita por Carlos Eduardo Amaral.
- Entrevista com Jarbas Maciel feita por Carlos Eduardo Amaral.
- Roteiro da documentário A Música Armorial.
- Texto de Luís Américo sobre a Orquestra Armorial.
- Matéria "Do dodecafonismo ao Maracatu" de Jarbas Maciel.
- Entrevista com Cussy de Almeida.
- Entrevista com Rafael Garcia.
- Emblemas e Sagrações do Armorial de Maria Thereza Didier.

4 comentários:

● My Queiroz disse...

texto muito bom. não sabia quase nada sobre o movimento Armorial.
preciosas informações!

A. R. Caetano Santos disse...

Adorei o texto elucidativo e direto, sobre uma "MUSICA" que estou conhecendo agora, e antes tarde do que nunca adorando estas cores brasileiras dispostas em uma paleta UNIVERSSAL!!! parabens.

Anônimo disse...

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lolikneri havaqatsu

Cristina disse...

Estoy muy emocionada. Hace más de 30 años toqué en la "Orquesta Armorial"
y tomé parte en las grabaciones de los discos. Epoca inolvidable. Gracias